segunda-feira, 15 de setembro de 2008
ANOTAÇÕES
Uma série ordenada de notas cria uma melodia ou um cofre de um banco. O tilintar das moedas é um som devastador, feio e inorgânico.
Com uma nota no bolso, posso comprar uma bolsa para colocar o resto das notas. Notável, não é?
É útil ter notas. Não todas. Mas algumas só …para afinar numa só… E à bossa do camelo proteccionista ou liberal, sempre nova ou pelo menos com diferentes camuflagens…
Ora afinar, implica o desafinanço prévio… Una musica brutal tal como os Gothan Project sussurram …
E em que música andamos a afinar ou a desafinar?...Gostaria de elaborar uma lista de notas, de coisas notáveis que devemos almejar…Mas será que é preciso saldo?....Se não há alternativa ao capitalismo, de que utopias ou ilusões vivemos ?....
Vivemos na ilusão que o capitalismo salva enquanto não destrói o que o mercado nos quis impor como vício, como necessidade ou como escapatória existencial….
Quando as desvantagens forem maiores que as vantagens, o sistema capitalista termina. Mas ninguém sabe o que fazer a seguir, pois as necessidades, os vícios e as escapatórias existenciais já lá estão , inconscientemente assumidas…
Ora , há que regular. Palavra chave nos compêndios economicistas. Como a regulação viesse expiar o vício , a necessidade ou a escapatória existencial…Como se ambição humana só pudesse ser medida até um determinado limite…. Acontece que ao atingir um limite, ou o sistema se expande ou implode… E como o capitalismo vive com base na concorrência, na acumulação de capital, na livre iniciativa e nas trocas comerciais entre indivíduos ou conjunto de indivíduos- empresas – só vai sobrevivendo na exponencial e absurda dinâmica da expansão da criação do vicio, da necessidade ou da escapatória existencial….
Vejamos o caso da água, que os camelos da bossa nova acumulam: Primeiro pedíamos água. E o barman sabia aquilo a que nos referíamos.
Agora pedimos água e somos confrontado com um elenco de perguntas:
1) Com ou sem gás?
2) Fresca ou natural?
3) Com sabor ou sem sabor?
4) Qual sabor?
5) Que combinações de sabor?
Qualquer dia, vou ser confrontado se quero beber água , em garrafa anafada ou esguia…
Agora, multipliquem o caso da água, fonte de vida, a infinitésima potência de produtos e conceitos que a liberdade individual e o mercado nos brinda…
Por isso, na era da incomunicabilidade, prefiro pegar num tina cheia de água e deitá-la sobre a cabeça , tal como Beethoven, e a ver se ouço algumas notas ….Pelo menos, antes que fique tudo surdo…
P.s) Desculpem a maçada de estarem a ler, mas já há produtos que transcrevem para a forma oral este pequeno texto…
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Cinema de Guerra
Dois filmes interessantes sobre a irracionalidade humana em clima de guerra: Horizontes da Glória de Stanley Kubrick e Cartas de Iwo Jima de Clint Eastwood.
A perfeição técnica dos dois é irrepreensível.
Quanto à estrutura narrativa há que salientar o seguinte:
Em ambos, as preocupações éticas e a crítica à guerra são evidentes. Ambos falam de missões suicidas.
No primeiro, a legítima desobediência a ordens superiores e na segunda a sacrificial obediência às mesmas ordens. No primeiro um general louco que se coloca, cobardemente na traseira das suas tropas e tenta arranjar bodes expiatórios para os falhanços militares , metodicamente impostos pelo quartel general. No segundo, um general clarividente nas razões e efeitos da guerra, que se coloca na dianteira das suas tropas.
Tanto as cenas finais de horizontes da glória como das cartas de Iwo Jima relatam o rosto humano da guerra: Que não escolhe credos, religiões, raças e que no fundo face à irracionalidade, todos os humanos são iguais e que face à solidariedade igualmente todos são iguais.
O primeiro filme relata a I Guerra Mundial e as tropas francesas face ao inimigo alemão. O segundo relata a II Guerra Mundial e a resistência e queda honrosa do soldados japoneses face as tropas norte americanas.
Dois filmes iconográficos na cinematografia de guerra que ao lado do Apocalipse Now – que tratou a guerra no seu lado subjectivo – fazem reflectir sobre a questão inútil das guerras: Ao querer combater as diferenças, sejam elas ideológicas, políticas, sociais ou económicas no fim de tudo, as guerras colocam todos no mesmo patamar. Não há vencidos, nem vencedores. Todos são vencidos.