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sexta-feira, 3 de abril de 2009

E se Jane Austen vivesse no século XXI?


Como leitor, as obras de Jane Austen despertaram nos meus tempos de juventude primária uma curiosidade rebelde. Não sei se devido à minha condição masculina ou por mero devaneio antropológico, perceber o que se passava na cabeça e coração das mulheres era um enigma , para o qual ainda hoje a ciência ainda não encontrou resposta. E ainda bem que é assim.
Livros como sense and sensibiltiy, pride and prejudice , mansfield park ou persuasion relatam um mundo interior ventríloquo. As heroínas e personagens de Jane Austen nada dizem e tudo dizem.

A ironia, a subtileza e até uma certa pantominice fruto da época na qual viveu Jane Austen foram a forma encontrada para que num exercício de catarse das próprias condições biográficas da Autora houvesse uma superação entre o conflito entre a liberdade afectiva interior e as repressivas condições sociais.

Qualquer acção humana tem nos instintos, sensações, interesses e valores o seu motivo desencadeante.

No fim do século XVIII e princípio do século XIX, a regra e a convenção mascaravam os valores, disfarçavam os instintos e as sensações e potenciava-se o interesse. Neste aspecto, julgo que Balzac também teria uma palavra a dizer sobre o interesse em geral e o dinheiro em particular.

No início do século XXI, as heroínas de Jane Austen não mascaravam os valores. Colocariam -no num patamar alternativo à livre expressão dos instintos e das sensações.
O interesse seria assumido de modo mais acutilante. Sem subterfúgios de hipocrisia ou do socialmente correcto. Mas sempre com truques deliciosos…
O dinheiro já não seria um pretexto. Somente um fim.

As personagens austenianas no século XXI não perderiam tempo a reflectir se os seus homens as amavam. Pura e simplesmente mudavam de homem.

Actualmente, a Mulher passou a ser o centro do universo. Só que agora os homens não têm pudor em assumir o que sempre foi uma verdade irrefutável e que só estava camuflada, uma vez que durante vinte séculos eram os homens que iam para a guerra e tinha que se convencê-los que eram muito fortes.

E no meio disto tudo, provavelmente, os afectos , a construção de um verdadeiro discurso amoroso entre homens e mulheres talvez existisse e exista…Sem efabulações, nem mitificações…

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